Madre Teresa de Calcutá: o princípio misericórdia

Madre Teresa de Calcutá: o princípio misericórdia

 

Com certeza um dos arquétipos vivos do cuidado essencial é a religiosa católica Madre Teresa de Calcutá (1910-1997). Nascida na Albânia, trabalhou a partir de 1928 na Índia como missionária e professora num semi-internato. Tudo corria no ritmo normal de uma escola, quando, em 1946, viajando de comboio, disse ter escutado uma voz clara que lhe ordenava deixar o convento para ajudar os pobres, vivendo no meio deles. Entendeu-a como chamamento divino. Efectivamente, aos 38 anos de idade, saiu do mosteiro, trocou o seu pesado hábito negro por um prático e barato sari de algodão. Foi morar na periferia miserável de Calcutá, num casebre, vivendo à base de arroz e sal como os pobres, servindo os pobres. À medida que foram chegando seguidoras, fundou a Ordem das Missionárias da Caridade. Além dos três votos de pobreza, obediência e castidade, ela impôs-se um quarto: “Dedicar-se de todo coração e livremente ao serviço dos mais pobres dos pobres.”

Em Calcutá há milhares e milhares de miseráveis que nascem, vivem e morrem na rua. Madre Teresa cuidou logo de fundar a Casa dos Moribundos. Recolhia-os das ruas e levava-os para que pudessem morrer com dignidade. Começava assim uma obra de compaixão e misericórdia que se estendeu por muitas cidades da Índia, do Paquistão e de outros países, sempre com o fito de conferir dignidade e humanidade aos que iam morrendo.

A Ordem das Missionárias da Caridade cultiva um carisma, ligado directamente à ternura vital, o carisma de tocar as pessoas na sua pele, nos seus corpos e nas suas chagas. “Toca-os, lava-os, alimenta-os”, insistia Madre Teresa com as suas irmãs e os muitos voluntários que de todo o mundo acorriam para ajudar em suas obras. Outras vezes dizia: “Dá Cristo ao mundo, não o mantenhas para ti mesma e, ao fazê-lo, usa as tuas mãos.” A sua biógrafa, Anne Sebba, comenta: “A capacidade de tocar, com as suas implicações mais amplas, é especialmente importante na Índia, onde o conceito de “intocabilidade” é tão real; este é o verdadeiro espírito missionário em acção; é mais importante tocar que curar.” A mão que toca, cura porque leva carícia, devolve confiança, oferece acolhimento e manifesta cuidado. A mão faz nascer a essência humana naqueles que são tocados.

Em 1979 ganhou o Prémio Nobel da Paz. Deu-lhe o verdadeiro sentido: “Aceito o prémio em nome dos pobres… O prémio é um reconhecimento do mundo dos pobres.”