Mahatma Gandhi: a política como cuidado com o povo

Mahatma Gandhi: a política como cuidado com o povo

 

Uma figura que impressionou todo o século XX é seguramente Gandhi (1869-1948). Nascido na Índia, formou-se em Direito em Londres e trabalhou por mais de 20 anos na África do Sul (1893- 1915) defendendo os imigrantes indianos, vítimas da segregação racial. Em África, entrou em contacto com os ideais anunciados pelo grande escritor russo, Leon Tolstoi (1883-1945), autor dos famosos romances Guerra e Paz e Anna Karenina. Este via a essência da mensagem de Jesus no Sermão da Montanha, no amor, na recusa de toda a violência, na veneração aos pobres e no compromisso com uma vida simples. Tais ideias impressionaram profundamente Gandhi e ajudaram-no a formular a sua própria visão da não-violência e da actuação política como cuidado com o povo. Chegou a fundar uma comunidade rural “Tolstoi”, onde tentou viver esses ideais com outros amigos.

De volta à Índia, entregou-se à tarefa de organizar o povo contra a dominação inglesa. Começou por pregar o boicote aos produtos ingleses, especialmente aos tecidos. Incentivou o retomar da tradição familiar de tecer as roupas em casa. Convocou à desobediência civil. Foi preso inúmeras vezes. Famosa ficou a Marcha para o Mar em 1930. Por um decreto dos colonizadores, os indianos não poderiam comprar sal, a não ser aquele monopolizado pelos ingleses. Gandhi mobilizou milhares e milhares de pessoas que caminharam em direcção ao mar, para dele extrair o sal de que precisavam. Foi preso, mas conseguiu a liberação completa do sal.

Gandhi definia a política como “um gesto amoroso para com o povo”. Por outras palavras, política como cuidado com o bem-estar de todos e ternura essencial para com os pobres. Ele mesmo confessa: “Entrei na política por amor à vida dos fracos; morei com os pobres, recebi os párias como hóspedes, lutei para que tivessem direitos políticos iguais aos nossos, desafiei os reis, esqueci-me das vezes em que estive preso.”

Dois princípios básicos norteavam a sua prática: a força da verdade (satiagra) e a não-violência activa (ahimsa). Acreditava profundamente que a verdade possui em si uma força invencível contra a qual são inócuas as manipulações, as violências, as armas e as prisões. Tinha profunda convicção de que, por detrás dos conflitos, existe uma verdade latente a ser identificada. A função do político é crer nesta verdade, trazê-la à tona para todos e agir em coerência com ela, mostrando-se disposto a suportar os sacrifícios que tal postura comporta. Acreditava firmemente que a verdade, embora tardia, sempre venceria.

A crença na força da verdade levou-o à não-violência activa (ahimsa), que não significa cruzar os braços, mas usar todos os meios pacíficos para alcançar os objectivos almejados. Importa que os meios e os fins tenham a mesma natureza. Fins bons requerem meios bons. Pratica-se a não-violência activa, por exemplo, ocupando ruas, organizando manifestações multitudinárias, fazendo jejuns e preces, e oferecendo o próprio corpo para deter a violência.

Gandhi elaborou um pequeno credo em forma de oração, recitado todos os dias: “Não terei medo de ninguém sobre a terra. Temerei apenas a Deus. Não terei má vontade para com ninguém. Não aceitarei injustiças de ninguém. Vencerei a mentira pela verdade. E, na minha resistência à mentira, aceitarei qualquer tipo de sofrimento.”

Gandhi era profundamente religioso. Conhecia o cristianismo a fundo e tinha grande veneração por Jesus. Mas continuou na sua religião indiana, pois acreditava que todas as religiões, no seu coração, captam e expressam a mesma verdade divina. Tinha profunda convicção de que a prece e o jejum podiam modificar situações políticas. Por isso, sempre que havia algum impasse político maior, punha-se em prece e jejum por semanas. Convocava as multidões a praticar o mesmo. Fazia tremer o Império Britânico e demovia as forças contrárias.

Possuía um profundo cuidado para com todos os seres. Como um mandamento pregava: “Amarás a mais insignificante das criaturas como a ti mesmo. Quem não fizer isto jamais verá a Deus face a face.”

Fonte:https://contadoresdestorias.wordpress.com/2007/07/05/saber-cuidar-figuras-exemplares-de-cuidado-iii-l-boff/